Crónicas de João Gobern, in Record
Ficou célebre o comentário do professor universitário sobre a tese do aluno. Esclareceu o docente que a tese continha ideias boas e ideias originais – pena que as boas não fossem originais e que as originais não fossem boas… É deste episódio lapidar que me recordo sempre que assisto ao triste espectáculo das fúrias legislativas, de febres que atacam homens de bem que se transformam rapidamente em pistoleiros normativos, capazes de disparar em todas as direções. Estudam pouco e sabem menos, conseguindo aquele extraordinário tempero português que é colocar académicos e teóricos de um lado e agentes e técnicos do outro, como se não fossem todos indispensáveis. Depois, quando é preciso um álibi final, nomeia-se um grupo de trabalho que se limita a repetir os desejos do poder ou que tem o seu trabalho condenado ao lixo.
Infelizmente, esta epidemia ameaça chegar ao mundo do futebol. Soubemo-lo através de Jorge Jesus, que veio trazer a público um estudo ou uma proposta ou uma ideia ou lá o que é, com o objetivo de valorizar o jogador português. Tenho como bom o conceito de que o campeonato nacional só é competitivo, respeitado e suscetível de atenção externa, por causa das mais-valias internacionais que por aí andam e às quais se juntam os talentos portugueses, muitas vezes ávidos de emigrar, não para clubes de primeira linha mas para ordenados com que dificilmente podem sonhar (em média) por cá.
Haverá certamente formas de regulamentar a utilização dos homens da casa. Mas querer restringir a contratação de estrangeiros aos atletas internacionais parece apenas um assomo de arrogância, demonstrativo de que as palavras austeridade e contenção ainda nos não são familiares e capaz de confundir a nossa capacidade de contratação com a dos ingleses, o que é um desvario.
Jorge Jesus teve o cuidado de dizer que, por cá, somos também formadores de jogadores estrangeiros. Os exemplos a favor deste argumento são muitos. Mas basta pensar em Hulk, que só chega a internacional brasileiro graças ao crescimento e à exposição no FC Porto. Luisão e David Luiz são contabilidade positiva para o Benfica. Van Wolfswinkel precisou do Sporting para aparecer nas cogitações dos responsáveis holandeses para o Euro que aí vem. Mais: alguém duvida que gente como Belluschi, Javi Garcia, Nolito, Ínsua, Rinaudo traz mais perfume e mais combatividade ao futebol nacional?
Acredito muito mais no bom senso – e, já agora, na negativa ao alarmismo que faz do jogador português uma espécie em extinção, algo que é desmentido pelo bom comportamento das selecções – do que na regulamentação por iluminados. Espero que o tempo do “orgulhosamente sós” tenha passado de vez. E desejo que outras vozes se juntem à de Jorge Jesus, antes que se mate a galinha dos ovos de ouro.
Ficou célebre o comentário do professor universitário sobre a tese do aluno. Esclareceu o docente que a tese continha ideias boas e ideias originais – pena que as boas não fossem originais e que as originais não fossem boas… É deste episódio lapidar que me recordo sempre que assisto ao triste espectáculo das fúrias legislativas, de febres que atacam homens de bem que se transformam rapidamente em pistoleiros normativos, capazes de disparar em todas as direções. Estudam pouco e sabem menos, conseguindo aquele extraordinário tempero português que é colocar académicos e teóricos de um lado e agentes e técnicos do outro, como se não fossem todos indispensáveis. Depois, quando é preciso um álibi final, nomeia-se um grupo de trabalho que se limita a repetir os desejos do poder ou que tem o seu trabalho condenado ao lixo.
Infelizmente, esta epidemia ameaça chegar ao mundo do futebol. Soubemo-lo através de Jorge Jesus, que veio trazer a público um estudo ou uma proposta ou uma ideia ou lá o que é, com o objetivo de valorizar o jogador português. Tenho como bom o conceito de que o campeonato nacional só é competitivo, respeitado e suscetível de atenção externa, por causa das mais-valias internacionais que por aí andam e às quais se juntam os talentos portugueses, muitas vezes ávidos de emigrar, não para clubes de primeira linha mas para ordenados com que dificilmente podem sonhar (em média) por cá.
Haverá certamente formas de regulamentar a utilização dos homens da casa. Mas querer restringir a contratação de estrangeiros aos atletas internacionais parece apenas um assomo de arrogância, demonstrativo de que as palavras austeridade e contenção ainda nos não são familiares e capaz de confundir a nossa capacidade de contratação com a dos ingleses, o que é um desvario.
Jorge Jesus teve o cuidado de dizer que, por cá, somos também formadores de jogadores estrangeiros. Os exemplos a favor deste argumento são muitos. Mas basta pensar em Hulk, que só chega a internacional brasileiro graças ao crescimento e à exposição no FC Porto. Luisão e David Luiz são contabilidade positiva para o Benfica. Van Wolfswinkel precisou do Sporting para aparecer nas cogitações dos responsáveis holandeses para o Euro que aí vem. Mais: alguém duvida que gente como Belluschi, Javi Garcia, Nolito, Ínsua, Rinaudo traz mais perfume e mais combatividade ao futebol nacional?
Acredito muito mais no bom senso – e, já agora, na negativa ao alarmismo que faz do jogador português uma espécie em extinção, algo que é desmentido pelo bom comportamento das selecções – do que na regulamentação por iluminados. Espero que o tempo do “orgulhosamente sós” tenha passado de vez. E desejo que outras vozes se juntem à de Jorge Jesus, antes que se mate a galinha dos ovos de ouro.
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