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08 fevereiro 2010

O bom treinador 'veste Prada'


Por Luís Freitas Lobo in Expresso

A força da imagem: 'feira de vaidades' ou 'fogueira de competências'? Antes da táctica, o que faz um treinador estar na moda?

Leio uma entrevista com Paulo Sérgio, treinador do Guimarães, e quando lhe perguntam se é prejudicado por haver quem diga que não tem boa imagem, responde que "não dou muita importância a isso. Um bom casaco não faz um bom treinador, mas um bom treinador faz um casaco". Depois de alguns jogos e, principalmente, de vários bons resultados, é, de facto, assim. O maior exemplo é, claro, o sobretudo de Mourinho. Ficou famoso porque foi ele que o levou para o banco e não o treinador do Stoke. O mesmo casaco não é visto da mesma forma num treinador como noutro. Sempre se falou nos chamados "treinadores da moda". Na origem, antes de ganhar, essa entrada na moda (e nas preferências do mercado) resulta de um protótipo de imagem que, ciclicamente, se cria.

O boné de Pedroto já esteve na moda, o bigode farfalhudo de Artur Jorge também, tal como o chapéu da Macieira de Eriksson. As vitórias dão carisma. Mas, paralelamente, também existem mitos e fogueiras. Ora promovem treinadores ora destroem competências. Ou seja, não é, de facto, o casaco que faz o bom treinador, mas para os dirigentes existe uma pré-concepção da tal imagem de sucesso que condiciona a escolha. Por isso, a geração de pequenos 'novos Mourinhos' cresceu tanto após o sucesso do verdadeiro. O discurso assertivo, a autoconfiança quase arrogância, barba de três dias, sobrolho carregado. Só faltava... ganhar. E, em muitos casos, esse pormenor em falta raramente foi alcançado. Até a importância da imagem voltar ao seu verdadeiro local.

Poderá a imagem de Jesus esbracejando e mascando pastilha elástica ao mesmo tempo com a boca aberta tornar-se uma 'boa imagem' de marca para os novos treinadores da moda? Se ganhar, sim. Da mesma forma que, quando com o mesmo estilo ainda só esbracejava em clubes de segundo plano, se dizia não ter perfil (ou imagem) para ser treinador de um 'grande'. O que é isso?

Jesualdo permanece à margem de todos estes debates. Critica-se muito a sua postura 'esfíngica'. Diz-se que "não chega aos adeptos". Já ganhou três campeonatos mas a sua imagem continua sem cativar. Não se torna 'moda'. Como explicar? Não é fácil, até porque, vendo bem, o professor mudou muito nos últimos anos. Cortou o bigode do treinador português à moda antiga, actualizou o corte de cabelo, veste roupa de marca. Deixou até de fumar no banco. No plano do conhecimento futebolístico, nada disto faz sentido.

Afinal, que qualidades e características fazem, em teoria, um grande treinador? Os métodos de treino, a autoridade no balneário, o saber táctico, a astúcia em ler o jogo? Os livros ou a experiência dos relvados? Será uma mescla de tudo, com um pequeno (grande) pormenor no dia-a-dia da equipa: conseguir entrar na cabeça dos jogadores!

Trata-se, no fundo, de uma tese que defende estar sobretudo no 'invólucro' que reveste o discurso, o segredo do sucesso e da sedução. Mas nem todos podem ser D. Juan. Por vezes, sucede o treinador ter um conteúdo perfeito mas falhar nessa 'beleza exterior' com que 'vende' o projecto. O 'treinador da moda' tem as duas coisas. O curioso é que a primeira só se descobre depois de construída a segunda.

Tudo isto parece uma face oculta do jogo. Não é. Porque nela esconde-se o poder da comunicação (para jogadores, dirigentes, adeptos, imprensa). Mais do que um choque de conceitos, é um choque de personalidades. O mais cruel é que a imagem tanto pode ser uma 'feira de vaidades' como uma 'fogueira de competências'. A fronteira entre as duas é muito ténue. A diferença é feita por uma simples bola no poste ou dentro da baliza.


Passe+Remate
Um grande avançado vive da sua relação com o golo. Até chegar a essa última instância, porém, a bola passa por muitas outros atalhos dentro do relvado. A construção das jogadas tem como principais arquitectos os jogadores que melhor dominam o conceito de passe. Nesse ateliê futebolístico, os médios emergem, naturalmente, como os principais actores. A qualidade de passe numa equipa não pode, no entanto, ficar aprisionada a um sector. Os avançados no futebol moderno cada vez mais sentem a necessidade (para brilhar) de, além da simples relação com o golo, terem também uma relação afectiva com o jogo. É quando se confrontam com a exigência do passe, que chegam à essência do que se chama 'jogar bem'.

Cardozo é o tipo de jogador que imaginamos logo a rematar. É a imagem que ficou desde que chegou ao nosso futebol. Esta época, porém, com a equipa a jogar melhor, os seus registos, além das bolas metidas na rede (15), destacam outro dado: já fez 7 passes decisivos para golo! Na Luz, melhor só Di Maria, que rompe pela faixa e mete na área, com 10 passes 'mortais'.

Cardozo e Di Maria são distintos (ponta-de-lança e extremo) mas é exactamente este 'pormenor' do passe que, antes de serem simples 'avançados', faz deles 'jogadores' no sentido lato do termo. Em vez de verem o jogo quase em 'compartimentos estanques', têm dele uma leitura global (passe+remate).

Por isso, prefiro jogadores mais técnicos do que os físicos. Cardozo, apesar das aparências, é mais técnico do que físico. Porque esta avaliação não resulta só de ver o jogador sozinho no relvado. O segredo está na sua associação com a bola (jogo). O resto, são as características individuais que cada um tem.


Partir a bola
O bom médio é aquele que toca muitas vezes na bola mas detêm-na o menor tempo possível. Para perceber este conceito, tentem imaginar Aimar a jogar e pensem quais são os altos e baixos do seu jogo. O melhor sucede quando toca a bola e a solta no momento certo (passe). O pior sucede quando a quer conduzir excessivamente, perde tempo de passe e o melhor que consegue é sofrer ou 'cavar' uma falta. Pode parecer contraditório, porque é neste último caso que o artista tem mais tempo a bola consigo, só que o bom futebol tem outros desígnios. Ver jogadores capazes de 'unir' o jogo é o melhor sinal que uma equipa pode dar para se concluir estar no bom caminho para o golo.

Ruben Micael é o tipo de jogador que transmite essa boa sensação do 'jogar bem'. Bastaram curtos minutos no Estoril para voltar a perceber isso. Sabe dominar os excessos de condução de bola. Tem agressividade no espaço. Isto é, em vez de a canalizar para duelos com o adversário, direcciona-a para entrar decidido nos espaços vazios. E soltar a bola no momento certo. Depois, une passe e remate.


Unir o jogo
Parece a mesma coisa, mas existe diferença (e grande) entre o jogador que faz 'boas jogadas' e o jogador que 'joga bem'. O primeiro caso é quase como se estivesse no relvado para 'retalhar' o jogo. O segundo, é quando está nele para 'unir' o jogo. Hulk é um jogador que, mesmo nas suas cavalgadas explosivos, dá a sensação de jogar um jogo que só existe quando ele tem a bola. Depois, quando a jogada acaba e a bola vai para outros locais, já parece logo um jogo completamente diferente. Por isso, pode ser, sem dúvida, um grande avançado, mas até ser um grande jogador vai uma distância enorme. Falcão sabe dar os chamados 'toques burocráticos' de apoio ao colega que surge por perto, mas, de todos os avançados portistas, é Varela quem tem melhor entendimento conjunto da equação 'jogada+jogo'. Por isso, é ele que tem recebido mais elogios de ser quem está a jogar melhor.

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