1 Incontornável o comentário sobre o duelo dos eternos rivais. O Sporting-Benfica de sábado, dia 28, não constituiu qualquer surpresa. Nem para mim, nem, estou convicto, para Jorge Jesus. O Sporting jogava, efectivamente, a sua derradeira oportunidade de almejar atingir o topo da classificação e de ainda alimentar expectativas de disputa da Liga. Os jogadores sabiam que em causa estava mais do que um derby, mas o seu brio profissional e a sua reconciliação com os adeptos que, por muitas voltas que se dêem, continuam a ser determinantes na lógica de contratualização de todas as equipas. Carvalhal conhecia que do resultado dependia o seu estado de graça e a tranquilidade necessária para o desenvolvimento do seu trabalho. Por tudo isto, o Sporting exultou com o empate. Um empate que, nestas precisas circunstâncias, lhe soube a uma pequena vitória. Não contra o Benfica (que não foi nem se sentiu derrotado) mas contra a adversidade, as contingências e os muitos e prolixos maus augúrios. O Benfica reconquistou um grande jogador. Quim demonstrou à saciedade que é o melhor guarda-redes português. Precisava de uma exibição de «fazer o olho». E teve-a. Queiroz sabe, melhor do que ninguém, do que precisa para a campanha da África do Sul. Quim dará confiança. É um dos poucos guarda-redes portugueses que oferecem garantias de desempenho e tranquilidade exibicional. Certamente como Eduardo. Embora com características, experiências e qualidades diferentes.
2 O Benfica está a atravessar a fase que Jesus previu no início da época competitiva. Os adversários já conhecem a exuberância do jogo do Benfica, jogam numa lógica de redução de espaços e marcações apertadas, usando, por vezes, de alguma violência e tentam assim evitar as explosões desse grupo de artistas que é a sua linha avançada. As exibições têm sido, por isso, mais parcimoniosas. Mas não menos empenhadas, nem esforçadas. A pujança física e a capacidade técnica estão lá. Como o fio de jogo, a consistência e a vontade de vencer. Com o capitão Luisão e o reagrupamento da defesa, estou convicto que prosseguirá este Benfica o seu rumo em busca do título que merece e tanto deseja.
3 Curiosa a estatística publicada sobre os jogos da Liga. A equipa do Benfica de Jesus — o tal treinador que muitos etiquetavam, com base numa afirmação sua, como desconhecedor do fair-play — exibe o melhor comportamento disciplinar. Ainda que não pare o jogo por causa das cenas de cinema que alguns jogadores teimam em desempenhar no campeonato português, utilizando a simulação de forma despudorada.
4 Lionel Messi venceu, este ano, a Bola de Ouro. Indiscutível a sua genialidade. O argentino é um jogador raro. Alia a sua qualidade e fantasia ao trabalho colectivo e a uma humildade e simplicidade enternecedoras. Messi é a anti-vedeta. E ao sê-lo granjeia simpatias, adesões e fiéis. A sua introversão, o seu apagamento externo, a sua reserva pública cria nele uma auréola que o promove, o eleva e o prestigia. Cristiano Ronaldo será, com Messi, o jogador destes tempos. Não sei quem será melhor ou pior. Jogam de forma diferente, em esquemas tácticos diferentes, com características diferentes. São ambos os melhores. Ninguém o duvida ou questiona. A diferença entre estes dois génios do futebol está nas suas personalidades. Ao contrário de Messi, Ronaldo é a estrela e gosta do brilho de ser a estrela. É exuberante, glamoroso, chamativo. Capitaliza o protagonismo e a exibição. Vive a vida com a alegria com que joga. São o ponto e o contraponto. Como o foram Ingrid Bergman e Elisabeth Taylor e o são Woddy Allen e Francis Ford Coppola. Mais, Ronaldo criou uma indústria em redor do seu nome que vive e se alimenta da sua exibição permanente. E aqui radica, precisamente, a preocupação de equilíbrio que deve ter. Nunca permitir que o acessório — essa indústria — se sobreponha ao principal — jogar bom futebol. Porque a sua estrela advém dos relvados e é nos relvados que, semana após semana, é posta à prova.
5 Este mundo está louco. Thierry Henry reconheceu publicamente ter cometido uma falta que o árbitro não assinalou e assim marcado um golo mal validado. Foi mais longe, expendendo que, em abono da verdade desportiva, o jogo deveria ser repetido, pondo, com essa afirmação, a Selecção Francesa de cabelos em pé. Henry assumiu o que poucos jogadores assumem. Uma genuína preocupação pela preservação dos valores da ética desportiva. Ora bem. O que deveria merecer profundos elogios pela dignidade do seu comportamento mereceu o contrário. Segundo se lê nos jornais, o presidente da FIFA, na véspera do sorteio do Mundial, instaurou um processo disciplinar ao jogador, o qual, com alguma probabilidade, o poderá impedir de na mesma participar. É, realmente, tempo de refundar a estrutura internacional do futebol e afastar estes suseranos que se perpetuam nas organizações delas fazendo feudos inexpugnáveis onde tudo é permitido, mesmo ao arrepio dos princípios enformadores do Desporto e em violação de todos os ordenamentos jurídicos.
6 Lá estaremos na África do Sul, quase repetindo o mesmo grupo do Mundial de 1966. Será uma oportunidade de, no confronto com o Brasil, saber que hino cantarão Pepe, Deco e Liedson. Mas sei bem que farão tudo pela vitória de Portugal. Mesmo contra a sua Pátria. Porque esta não se escolhe. Acontece.
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