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11 novembro 2009

Crónica de Jacinto Lucas Pires


Todo o minuto 89

Por Jacinto Lucas Pires in JN

Este Benfica é uma lição para todos nós. Por cá, temos muito a tendência para sonhar alto só por sonhar, para ficar à espera de uma solução luminosa que caia do céu, para adiar, para desconversar, para deixar andar que um dia havemos de ser atropelados por uma dessas ideias “geniais” que funcionam sozinhas.
Somos um país de poetas, diz-se. E, como diz Agustina, naquele seu misto de ternura e malícia, sageza e provocação, “os poetas são uns preguiçosos”. Pois. Mas este Glorioso prova o contrário. Que é possível pôr a poesia a trabalhar, que Portugal sabe persistir e não desistir e lutar até conseguir. Foi assim na segunda-mão com o Everton e foi assim, mais dramaticamente ainda, na segunda-feira contra a Naval.
O típico jogo de água-mole-em-pedra-dura, de esforço e de nervo. Na Catedral, quando as claques paravam para respirar, nessas ínfimas pausas colossais, quem estivesse com atenção podia ouvir, logo debaixo do silêncio, um sonzinho de tic-tac, tic-tac. O som do tempo a passar, pois, e também quarenta e tal mil pessoas a roer as unhas. Foi um jogo tremendo, caros amigos. O autocarro de Inácio é amarelinho e simpático e uma ou duas vezes ainda fez tenção de acelerar, mas não deixa de ser um autocarro. Ou, respeitando o feminino de “a” Naval, uma camioneta, vá lá.
A bola não entrava, batia em todo o lado e não entrava, mas nunca desacreditámos. E é assim mesmo. Escrever uma primeira frase engraçada é mais ou menos fácil, dependendo da “inspiração” do momento, agora escrever uma segunda e uma terceira e chegar ao fim de uma crónica, um conto, um livro, isso é “tutta un’altra cosa”.
Quando nos céus do estádio já boiavam manchetes gigantes, do género desmancha-prazer, “Braga tem de fazer estátua ao guarda-redes Peiser” ou “A camioneta da Naval leva um pontito da Luz”, Javi García vê a bola no ar, ergue-se com uma leveza insuspeita e, com o clássico toque de testa, zup, manda para golo. A história, afinal, estava mesmo bem feita. No pico mais alto da emoção, no último instante, minuto 89. E logo pelo protagonista mais surpreendente e mais certo: Javi, o nosso operário espanhol, o carregador de pianos mais musical de toda a Europa. Uma lição, não?

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