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20 junho 2009

Entrevista a Luís Filipe Vieira no Jornal "a bola"


O mandato do sucesso desportivo


DE José Rosa Rodrigues, o mais velho dos irmãos Catataus, eleito primeiro presidente do Sport Lisboa a 28 de Fevereiro de 1904, a Luís Filipe Vieira, 34.º presidente dos encarnados, vão 105 anos de história, escrita a sangue, suor e lágrimas, com altos e baixos, que nunca fizeram tremelicar a chama imensa que move os adeptos do clube. Se Luís Filipe Vieira vencer as eleições marcadas para o próximo dia 3 de Julho, tornar-se-á, assim cumpra integralmente o mandato, no presidente do Benfica com mais anos seguidos à frente dos destinos dos encarnados (2002/2012), superando Bento Mântua que esteve na cadeira da presidência consecutivamente entre 1917 e 1926.

OS TRÊS PILARES

Se os clubes assentam em três pilares — o financeiro, o infra-estrutural e o desportivo — poder-se-á dizer, sem margem de erro, que nos dois primeiros mandatos Vieira tratou de solidificar os dois primeiros, através da normalização das finanças de um clube que andava pelas ruas da amargura e da construção do novo Estádio da Luz e equipamentos envolventes, e do Campus do Seixal, sem esquecer o aparecimento da Benfica TV.
Falta cumprir um terceiro desígnio, o pilar da retoma desportiva, dentro dos parâmetros a que o Benfica, até ao princípio da década de 90 do século passado, habituou os seus adeptos.
Em seis anos de vieirismo o Benfica conquistou, no futebol sénior, um Campeonato, uma Taça de Portugal, uma Supertaça e uma Taça da Liga, ao mesmo tempo que somou títulos nacionais em modalidades como o futsal, o voleibol, o andebol e o basquetebol. Também enveredou por um projecto olímpico que permitiu que dois atletas do clube fossem medalhados com ouro e prata em Pequim/08 — Nelson Évora e Vanessa Fernandes — e que uma judoca do Benfica, Telma Monteiro, seja das melhores do mundo na sua categoria.
Nas categorias inferiores do futebol, depois de uma rarefacção de títulos , o Campus do Seixal começa a dar frutos e na época corrente o Benfica já venceu o título de iniciados, podendo hoje sagrar-se, na Luz, campeão de juniores, assim vença o FC Porto.
É esta a obra que Luís Filipe Vieira tem para apresentar e que mostra que, apesar do handicap dos técnicos que não duraram mais de um ano e da busca do melhor modelo para o futebol, o clube tem um rumo. Aliás, com a entrada em cena de Rui Costa, o modelo de organização do futebol encarnado terá ficado sedimentado, precisando agora o clube de combater a crise de ansiedade provocada pela escassez de títulos, o que coloca um peso por vezes excessivo sobre os jogadores.
Presidente muito próximo dos adeptos — quantas voltas a Portugal e não só já deu Vieira, pelas casas do Benfica? —, a sua reeleição nunca esteve realmente posta em causa, apesar do barulho das luzes que envolveu a fugaz passagem pelo palco eleitoral de José Eduardo Moniz. Nas páginas que se seguem, Vieira explica e ataca, defende e acusa, mostrando, em cada instante, uma fé inabalável no que está a fazer. Nascido no humilde bairro das Furnas, em Benfica, Lisboa, a 22 de Julho de 1945, é este self made man, que possui a quarta classe, que tentará — assim ganhe as eleições — devolver o Benfica à normalidade de vencer, abrindo assim um novo ciclo no desporto português.

«Que garantias editoriais pode dar a TVI relativamente ao Benfica?»
Luís Filipe Vieira passa a pente fino a realidade do Benfica e ataca com violência José Eduardo Moniz, que não chegou a candidatar-se à presidência do Benfica. Uma entrevista frontal em que são postos os pontos nos is e onde fica a certeza de que os direitos televisivos do Benfica são a mina de ouro que todos procuram alcançar...

José Eduardo Moniz referiu-se ontem a uma troca de sms que teve consigo, depois do jogo da Académica...
— É verdade que houve esse sms, por acaso num jogo em que o Benfica foi altamente prejudicado, como todos se lembram. Mas já que ele revelou essa troca de sms, isso deixa-me à vontade para revelar uma conversa que tivemos em 2003, em que eu lhe chamei a atenção para o facto de ele estar com 31 anos de quotas em atraso, desde 1972. A responsabilidade de qualquer sócio é ter as quotas em dias. E para quem assume a ambição de ser presidente deste clube, não fica bem ter estado durante 31 anos sem cumprir com o Benfica uma das suas primeiras obrigações.

— Moniz falou em golpe estatutário, que comentário lhe merece?
— Devo dizer-lhe que os Órgãos Sociais do Clube vão equacionar o que é que vão fazer. Uma coisa é algumas pessoas sem peso, nem responsabilidade, terem usado essa palavra — que tem uma evidente carga negativa — outra é José Eduardo Moniz. Vamos ponderar aquilo a fazer, na certeza de que cumprimos com os estatutos e defendemos os interesses do Benfica.

— Outra das razões invocadas por Moniz foi a de desconhecer a situação financeira do Benfica?
— Isso nem sequer é um argumento é uma insinuação de má fé. O Benfica tem as suas contas auditadas, apresenta resultados consolidados, aliás é o único clube a fazê-lo. Portanto, a nossa situação financeira é conhecida de todos quantos se interessam por isso. E é, não tenho dúvidas, seguramente melhor que a situação financeira da TVI nesta altura.

— Ficou surpreendido com esta posição de José Eduardo Moniz?
— Não, há mais de dois meses que já sabia destas movimentações. Mas já agora gostava de deixar aqui algumas perguntas a José Eduardo Moniz: como é que iria trazer capital para o Benfica sem vender a SAD? O que é que pensaria fazer aos direitos televisivos do Benfica? E, finalmente que garantia editorial é que ele pode dar em relação à cobertura da TVI, não só na campanha, como depois dela, de toda a realidade do Benfica? Quando ele responder a estas questões, as pessoas vão perceber quais eram os reais interesses dessa candidatura!

RAZÕES QUE LEVARAM A ELEIÇÕES ANTECIPADAS

— O que o levou a propor aos Órgãos Sociais do Benfica que criassem condições para que as eleições fossem antecipadas para três de Julho?
— Limitei-me a acompanhar uma discussão eleitoral que arrancou completamente fora de tempo e que, evidentemente, não era saudável, a nível institucional, manter esta situação até Outubro. Acho que é compreensível que quem está à frente do clube, e depois de três meses a ler e a ouvir críticas de um grupo de pessoas que se constituiu em movimento, entendesse que não podia passar mais quatro meses na mesma situação. Foi por isso que decidi clarificar a situação dando a palavra aos sócios! Acho que foi a atitude mais correcta. No Benfica não temos um regime totalitário em que aniquilamos a oposição, ou um regime monárquico em que o presidente designa o seu sucessor. O Benfica é o clube mais democrático em Portugal.

— A que se deve a sua decisão de avançar para um terceiro mandato?
— A avaliação do trabalho realizado e a convicção de que posso continuar a consolidar tudo quanto foi feito. Podem ter a certeza de que, se da avalização que fiz, entendesse que já não tinha mais nada para acrescentar, não seria candidato. A consolidação do clube esta feita, agora começa a ser o tempo de tirar os dividendos das estruturas que foram criadas durante todos estes anos.

— Como viu, a sua família, esta decisão, que vai mantê-lo debaixo de todos os holofotes?
— Não posso dizer que tenha ficado particularmente agradada com a ideia. Além do tempo que o desempenho destas funções retira à família, há uma exposição excessiva na Comunicação Social. Felizmente, também compreenderam que tudo quanto foi feito para trás necessita de ter continuidade, mas é evidente que vão sair prejudicados.

— Chegou ao Benfica na equipa de Manuel Vilarinho, há oito anos, qual era o estado do Benfica?
— Infelizmente, noto que há muitas pessoas que já não conseguem lembrar-se do estado a que o Benfica chegou há oito anos. Estamos a falar de um clube em processo de auto-destruição. modalidades em via de desaparecimento, a formação completamente abandonada, processos judiciais que nunca mais acabavam (aliás ainda hoje estamos a resolver alguns desses processos), zero de credibilidade a nível nacional e internacional. Enfim, o caos absoluto. Acho que, como disse durante a apresentação da minha candidatura, se pudéssemos fazer uma viagem no tempo, ficaríamos espantados com a diferença. Só assim é que as pessoas entenderiam tudo o que foi feito neste período.

RUI COSTA, JORGE JESUS E O FUTEBOL

— Está satisfeito com as duas grandes opções que tomou relativamente a Rui Costa, primeiro fazendo-o regressar à Luz e depois tornando-o director desportivo e administrador da SAD?
— Sem dúvida, quer como jogador, quer como director desportivo é um valor acrescentado do Benfica. O seu conhecimento, a sua dedicação e o seu empenho ao serviço do clube vão começar, muito em breve, a ser recompensados. Trabalhamos diariamente em equipa e não tenho dúvidas em relação ao seu futuro!

— Mas como tem sido trabalhar durante este primeiro ano com Rui Costa?
— Devo confessar que teve um processo de aprendizagem à nova realidade muito rápido. Trabalhamos diariamente em equipa e as decisões são assumidas dessa forma. Ele ganhou dentro de campo e sabe quais são as condições que são necessárias para garantir o sucesso. É nisso que estamos a trabalhar!

— Se um quiser seguir um rumo e o outro um rumo diferente, quem prevalece?
— Prevalece o Benfica, mas não tem acontecido!

— Crê que desta vez estão a ser criados os mecanismos capazes de levar o Benfica ao título?
— Creio que mais do que levar o Benfica ao título, sinto que estão criadas as condições para ganhar de forma regular. Não nos interessa ganhar uma vez e voltar a passar vários anos longe dos títulos. As condições estão criadas para podermos aspirar a ganhar durante vários anos consecutivos.

— Voltando ao futebol: Luisão, Di María e Katsouranis são para sair? Quem mais, além de Patric, Ramires e Schaffer se perfila no horizonte benfiquista.
— Vou dar uma resposta geral. O nosso objectivo é manter uma equipa forte que nos permita lutar pelos títulos nas várias competições. Não estamos vendedores, a não ser que alguém avance com as cláusulas de rescisão previstas.

— Quem vai faltar para dia 29 de Junho Jorge Jesus poder começar a preparar a época?
— Não vai faltar ninguém. Vamos ter uma equipa competitiva e que seguramente vai cumprir aquilo que esperamos dela.

— Das conversas com Rui Costa e Jesus, que lugares há a preencher no plantel de 2009/10?
— Não vai haver grandes mexidas, mas prefiro que seja o Rui Costa e Jorge Jesus a explicarem, no tempo em que entenderem conveniente, o plantel do próximo ano. A única certeza é que vamos ter uma equipa competitiva que vai tentar para ganhar as competições em que entrar.

— Jesus, um português (e só Fernando Cabrita, Mário Wilson e Toni foram treinadores portugueses campeões no Benfica...) é a aposta certa?
— Tem o perfil que definimos como desejado para assumir o comando técnico da equipa. Tem provas dadas, vive o futebol de manhã à noite, é ambicioso, trabalhador e conhece bem o nosso futebol. É um treinador em quem acreditámos, em quem depositamos grandes esperanças, de outra forma não estaria aqui!

— Como reage quando dizem ou escrevem que o Benfica é um cemitério de jogadores?
— Poucos têm a noção da pressão diária que as pessoas que trabalham no Benfica sentem. A única resposta que posso dar a essa pergunta é que quando se ganha é mais fácil garantir estabilidade. Lembro-me que num ano o FC Porto contratou três treinadores: Del Neri, Fernandez e José Couceiro e ninguém falou de cemitério ou urgência hospitalar. A estabilidade garante-se ganhando, mas também é bom recordar que neste percurso houve alguns treinadores que saíram por vontade deles e não do clube. O caso Cissokho é um bom exemplo da diferença de tratamento e da pressão mediática que o Benfica sofre. Se aquilo que sucedeu com o Cissokho tivesse acontecido com o Benfica, o caso tinha tido um destaque que não teve e teria sido uma novela que iria durar dias. Não se viu nada disso!

— Fez um bom acordo com o Sp. Braga, por Jesus?
— Fizemos o acordo que tinha de ser feito.

— Reyes, fica, vai, qual é o ponto da situação?
— O Rui Costa já o disse, é um jogador de muita qualidade, mas os tempos que vivemos obrigam a ter a noção exacta de que não podemos comprometer o nosso equilíbrio orçamental. Se for possível conciliar estas duas verdades, então podemos pensar nisso.

— O Benfica pode continuar sem entrar no clube da Champions?
— Não, o Benfica não pode continuar a ficar fora da Liga dos Campeões. Ficar fora deve ser a excepção, a regra deve ser estar sempre presente.

— A Liga Sagres de 2009/2010 vai ser mais competitiva, com um Sporting mais apetrechado e um FC Porto preparado para comprar quem lhe aprouver?
— Essencialmente espero que o Benfica seja competitivo!

— Como vê o momento da arbitragem em Portugal?
— Não quero falar de arbitragem, apenas desejar que no próximo ano haja menos erros de arbitragem comparativamente com os que houve este ano e, já agora, espero que quando houver erros eles sejam melhores distribuídos entre os três grandes. Este ano, infelizmente, o Benfica foi aquele que foi mais penalizado. Mas isso nem sequer é uma novidade.

SEIS ANOS NA PRESIDÊNCIA

— O que mudou durante os seus seis anos de presidência?
— Não me tenho cansado de repetir que o valor fundamental que foi recuperado durante este tempo foi a credibilidade do clube. Depois investimos nas infra-estruturas e, nesse capítulo, a decisão de avançar para a construção do novo estádio foi determinante, porque foi à volta dele que os benfiquistas voltaram a acreditar que era possível voltar a ter um Benfica sério, ganhador, credível, enfim, voltar ao antigamente. Depois das infra-estruturas voltámos a apostar na formação e nas modalidades, estruturamos o clube de forma profissional, recuperámos o valor da marca e, mais recentemente, lançámos a Benfica TV. Creio que poderia ficar a falar durante mais algum tempo, mas não vale a pena. A obra está a vista de todos.

— O que falta mudar?
— Basicamente falta começar a obter resultados de forma regular, principalmente no futebol. Sou o primeiro a reconhecer isso, mas é bom que fique claro que nunca enganei ninguém. Quando assumi a presidência do clube, sempre disse que se tivesse de começar por algum lado iria começar pela estabilidade económica. Foi isso que fizemos. Agora, é evidente que é o futebol que tem maior exposição e nesse sentido vamos ter de ganhar mais vezes e de forma continuada.

— Que prioridades estratégicas para os próximos três anos, caso vença as eleições?
— A prioridade para os próximos três anos passa por consolidar o projecto desportivo, recuperar a nossa tradição vencedora. Esse é o principal objectivo. É bom não esquecer que fizemos investimentos de cerca de 250 milhões de euros em infra-estruturas, isso está feito. Temos, agora, de retirar os proveitos desse investimento. Não escondo que nos próximos três anos também gostaria de fazer o museu, avançar para o nosso centro documental de forma a cuidar da nossa história. Mas, como disse no início, a principal prioridade passa por investir no projecto desportivo.

PASSIVOS ACTIVOS E OUTRAS CONTAS

— É preocupante a SAD ter apresentado um prejuízo de 18 milhões de euros?
— O preocupante é quando somos apanhados de surpresa, o que não foi o caso. É uma situação que se inverte se decidirmos vender um ou dois jogadores, mas neste momento estamos mais preocupados em manter e reforçar uma equipa que seja competitiva e que aponte para os objectivos que queremos alcançar! Mas, de qualquer maneira, o que está no balanço não reflecte a valorização dos nossos activos. Sabe em quanto é que está avaliado o nosso plantel? Sessenta milhões. Acha que o plantel vale apenas isso? Claro que não. O Luisão, por exemplo, está avaliado apenas em dois milhões. Mas isto é um problema que não afecta apenas o Benfica, afecta igualmente o Porto e o Sporting. Bastaria fazer uma reavaliação e a situação seria totalmente diferente. Aliás, houve um ex-presidente que para disfarçar as contas fez isso. Mas dessa vez reavaliou o plantel por valores muito superiores ao que efectivamente valia.

— Está a falar de Vale e Azevedo?
— Não, nada disso. Esse pelo menos assumia os buracos às claras!

— Manuel Damásio?
— Não vou entrar por ai. Podem investigar...

— Portanto, deduzo que não está preocupado com o passivo?
—O passivo tem variado, em termos consolidados, tem variado entre os 300 e os 320 milhões, mas a nível do investimento feito em infra-estruturas, como já disse atrás, foram cerca de 250 milhões de euros (estádio, centro de estágio, Benfica TV). É importante que as pessoas percebam que estas infra-estruturas constituem os principais activos do clube. Quando comprámos uma casa e pedimos dinheiro emprestado ao banco, o nosso passivo aumenta, mas isso não significa que fiquemos mais pobres porque o nosso património também aumentou! É o que acontece com o Benfica, ao passivo que temos corresponde um activo patrimonial elevado.

BENFICA TV E DIREITOS TELEVISIVOS

— A Benfica TV virou de pés para o ar o panorama dos clubes. O próximo mandato será dedicado a rentabilizar, devidamente, por antecipação, os jogos da equipa principal de futebol, vendidos, à Olivedesportos até 2013?
— Em primeiro lugar, devo dizer que a Benfica TV superou as nossas melhores expectativas e, hoje em dia, já ninguém consegue conceber o Benfica sem a sua televisão. Orgulho-me de ter avançado com a Benfica TV, dos seus resultados nestes seis meses de vida e no grau de inovação que representou a nível nacional. Quanto aos direitos televisivos, vamos honrar um contrato que foi assinado numa conjuntura difícil, em que era necessário garantir alguma liquidez financeira. O contrato termina em 2013 e esse será o tempo certo para renegociar esses direitos.

— A chave está no que é actualmente pago em direitos televisivos?
— Sem dúvida, os nossos direitos televisivos, como já disse, valem muito mais. E essa negociação vai ser feita quando chegar o tempo.

— Como classifica a sua relação com Joaquim Oliveira?
— Boa, temos uma relação pessoal e uma relação institucional. Sabemos separar as coisas. Cada um defende a sua instituição da melhor forma que sabe. A amizade não interfere com a defesa dos interesses das instituições que representamos e ele sabe que é assim.

— E a relação entre o Benfica e a Olivedesportos?
— Já disse, é uma relação seria. Dentro de quatro anos vamos ter de renegociar o valor dos direitos televisivos.

— É nos escassos direitos televisivos que reside a razão para o fosso cada vez maior entre Portugal e o resto da Europa Ocidental?
— É evidente que, na realidade que vivemos hoje, os direitos televisivos agravam essa diferenciação. Recordo que em Nápoles, quando do primeiro jogo da UEFA este ano, fiquei a saber que o Nápoles recebe por ano mais de 40 milhões de euros. Assim é difícil combater os argumentos financeiros dos clubes espanhóis, ingleses ou italianos.

— Para quando a Benfica TV na plataforma ZON?
— Quando for encontrada uma plataforma financeira que defenda suficientemente os interesses do Benfica.

A ÉPOCA DE 2008/09 E AS DESILUSÕES INESPERADAS

— Desportivamente, como classifica esta época, não só no futebol, mas na globalidade do clube?
— A nível do futebol é claro que esperava mais. Houve progressos a nível estrutural, mas ficámos aquém das expectativas. Já no capítulo das modalidades e do futebol de formação penso que os resultados foram muito positivos. Os títulos nas camadas de formação (iniciados, que já não ganhávamos há 20 anos), o título de basquetebol que já não ganhávamos há 14 anos, são sinais de que estamos a inverter a tendência destes últimos 15 anos. Por outro lado, não deixa de ser encorajador ver o número de jogadores do Benfica que integram as selecções jovens. É sinal de que o nosso trabalho começa a dar resultados.

— Quanto ao futebol, com este plantel esperava mais?
— Não o escondo, mas temos de ter mais alguma paciência. É evidente que não foi pela falta de um bom plantel que a equipa não foi mais longe. Já fizemos essa análise, houve coisas positivas que foram feitas, mas naturalmente houve aspectos em que falhámos e isso vamos ter de corrigir…

— Qual foi o principal pecado de Quique Flores?
— Não se trata de nenhum pecado, mas talvez não se tenha adaptado à realidade do futebol português. Mas quero deixar aqui bem claro o apreço que tenho pelo trabalho que foi desenvolvido. Houve aspectos positivos que merecem ser destacados, o que não impediu que as partes chegassem à conclusão de que não havia margem de progressão e daí o acordo alcançado.

— Não acha que ao Benfica não servem jogadores que não percebem a grandeza do clube?
— Ao Benfica não servem nem jogadores, nem treinadores, nem funcionários que não percebem a grandeza do clube ou que não trabalham aquilo que deviam trabalhar. Esta camisola tem de ser sentida e honrada. Para mim honrar esta camisola significa dar tudo o que se tem e o que não se tem.

A GUERRILHA ANUNCIADA

— Quando decidiu partir para eleições antecipadas, o que o moveu? A consciência de que o Benfica ia entrar em clima de guerrilha até Dezembro?
— Já o disse atrás, não é saudável para nenhum clube manter uma discussão eleitoral durante sete ou oito meses. As pessoas tem legitimidade para discordar, para criticar, têm legitimidade para apresentar projectos alternativos, para se constituir em movimento e, portanto, a única coisa que fiz foi encurtar essa discussão. Tenho ouvido durante estes dias muita coisa, mas confesso que tenho dificuldades em ouvir algumas pessoas que já estão em campanha há mais de quatro meses, que já fizeram a peregrinação pelos bancos há mais de um mês e meio, continuarem a falar em falta de tempo!

— Alguns movimentos de oposição congregam pessoas que, em comum, só têm as críticas que lhe fazem...
— O problema não são as críticas. O meu mandatário não é uma pessoa alinhada, criticou-me em determinados momentos, mas é o meu mandatário, sinal de que sei ouvir as críticas. O problema é a falta de projectos e de ideias, o problema é quando um determinado grupo de pessoas se reúne em torno de algo apenas por uma vontade revanchista. Apenas pela critica vazia de ideias. Isso é que é preocupante.

— Vários dos seus colaboradores mais próximos acusam-no de teimosia. É assim?
— Sou teimoso, mas sei ouvir e sei dar razão a quem a tem. O novo Estádio da Luz foi fruto da teimosia de alguns, entre os quais estava eu, mas foi essa teimosia que nos devolveu a nossa auto-estima. O centro de estágio foi igual. Agora, pergunta-me, nunca erra? Também erro, claro. Já errei várias vezes, mas sempre na convicção de que estava a fazer o melhor para o clube.

— Se for eleito para novo mandato será o presidente com mais anos consecutivos no poder. Que reflexão lhe merece?
— A única que se pode retirar desse facto, é a de que, depois de todos estes anos, continuo a merecer a confiança dos sócios e aumenta a minha responsabilidade perante eles! Nada mais do que isso.

— Que Benfica vê depois de ter dado várias voltas a Portugal pelas casas do clube?
— Uma das minhas prioridades, desde que cheguei à presidência do Benfica, foi valorizar as casas do Benfica, porque elas representam espaços onde se defendem os valores e a história do clube. Dessas várias visitas sinto que adeptos e sócios sentem um grande orgulho pelo clube que têm e uma grande ansiedade em relação às vitórias. Partilho dessa vontade!.

— Sendo o clube com mais associados do Mundo, porque não gera o Benfica receitas em consonância?
— Não concordo com a afirmação que faz. O Benfica esteve, há dois anos, na lista dos vinte maiores clubes europeus. Hoje já não estamos, mas a nível de merchandising continuamos a verificar que o Benfica está acima de muitos dos clubes que actualmente integram essa lista. E a nível de bilheteira sucede o mesmo. Portanto, diria que a principal diferença tem a ver com o valor dos direitos televisivos.

— Que planos de expansão tem para o Benfica em África?
— África é um mercado natural para Portugal e principalmente para o Benfica. Estamos naturalmente atentos a essa realidade. Os países lusófonos devem ser uma prioridade para nós. A Benfica TV, por exemplo, deve chegar a todos os países de expressão portuguesa. Aliás, o meu desejo é ver a Benfica TV, a médio prazo, em 30 países.

— Ao fim de seis anos na presidência, sente-se feliz por congregar os nomes que conseguiu na Comissão de Honra e no Mandatário da Candidatura?
— Os nomes que constituem a Comissão de Honra são, sem dúvida, um motivo de orgulho, porque são um sinal do reconhecimento em relação ao trabalho realizado. Gente da politica, do desporto, gente com convicções muito diferentes, mas que partilham da ideia de que sempre dei tudo por este clube. E isso para mim é motivo de natural satisfação.

— Está satisfeito com a formação e as modalidades, que obtiveram resultados positivos?
— Tenho orgulho não apenas nos resultados, mas principalmente porque contra a ideia de alguns sempre defendi a manutenção e o reforço de todas as modalidades. As pessoas que me rodeiam no Benfica sabem isso e não são só os resultados que interessa assinalar, mas também a gestão que foi implementada. Gastou-se menos, obtendo melhores resultados. Esse deve continuar a ser o caminho!

— O projecto olímpico é para continuar?
—Sem dúvida, é uma aposta para manter e, eventualmente, reforçar.

— As eleições de três de Julho tiram-lhe o sono?
— As eleições de dia três são um acto que responsabiliza todos os sócios do Benfica, porque o futuro passa por aí.

— Qual é, na sua óptica, o Benfica ideal? Pensa que pode lá chegar?
— O Benfica ideal é aquele que alia a modernidade aos resultados, aos títulos. E sei que vamos lá chegar. Já cumprimos metade, talvez um pouco mais, atendendo aos resultados que começamos a obter na formação, nas modalidades e até no futebol já fomos ganhando de forma intermitente. Temos de consolidar esse capítulo!

MENSAGEM A SÓCIOS, ADEPTOS E ATLETAS

— Que mensagem quer deixar aos sócios do Benfica?
— Uma mensagem de confiança e de optimismo no futuro. Nenhum clube do Mundo conseguiu fazer o que nós fizemos neste espaço de tempo. O Benfica, hoje, é um dos clubes mais modernos do Mundo e isso deve ser motivo de orgulho. Falta ganhar com regularidade, mas vamos faze-lo e completar o circulo que falta fechar.

— E aos atletas?
— Que têm de saber a responsabilidade que é vestir esta camisola. Saber que os sócios e adeptos esperam sempre cada vez mais deles e eles devem corresponder com o seu exemplo, com a sua entrega e dedicação.

— Como se sente, a poucos dias, tudo o indica, de iniciar terceiro mandato no Benfica?
— Nunca se ganha por antecipação, são os sócios que têm a palavra e são eles que devem decidir no próximo dia três.

— Quando estará pronta a comissão de serviço que se propôs realizar na Luz?
— O Benfica é um projecto que nunca se completa. Haverá sempre coisas por fazer. Mas não tenho dúvidas de que a parte mais difícil foi conseguida. Travámos o fim do Benfica, recuperámos o seu património e a sua credibilidade. Quando vai acabar a minha comissão de serviço? Para já depende dos sócios!

— Vai bater-se por jogos à tarde, na Luz?
— Foi uma promessa que fiz ao meu pai e que espero poder vir a cumpri-la, ainda que de forma parcial. Este ano tivemos — para a Taça da Liga — um jogo à tarde e foi uma festa de família. Os jogos à tarde possibilitam esse ambiente. Também sei que as televisões preferem que os jogos sejam transmitidos à noite por uma questão de audiência. Devemos caminhar para o equilíbrio.

— Das suas presidências, qual a equipa ideal?
— Todas as equipas directivas com quem trabalhei prestaram um excelente serviço. Individualizar uma seria um enorme acto de injustiça.

De José Veiga às alternativas

Luís Filipe Vieira, a propósito de alguns qui pro quo com José Veiga, continua a dizer que não quer discutir pessoas. «Não creio que seja esse o caminho desta candidatura. Aliás, já o disse, espero que a partir do dia 3, quem ganhar as eleições tenha tranquilidade para poder implementar o projecto apresentado. A única coisa que posso dizer é que dou-me bem a trabalhar com Rui Costa, cujo comportamento ético é inatacável. E prefiro ficar por aqui!». Porém, alguma explicação tem de haver para tão grande animosidade ... Vieira dixit: «Vou repetir o que já disse, não quero entrar por aí. O senhor José Veiga foi funcionário do clube. Recebeu para desempenhar as funções que exerceu. Fez-se sócio em função desse vínculo contratual. Se entende, agora, que essa ligação ao Benfica é tão forte para apresentar um projecto alternativo, serão os sócios que terão de avaliar e decidir.»

Do Apito Dourado a Pinto da Costa

O Apito Dourado foi uma constante do discurso de Luís Filipe Vieira ao longo dos últimos anos. Agora, diz sentir-se recompensado... «Ainda na passada semana, numa entrevista a um semanário, o Procurador-Geral da República assumiu que o futebol mudou, que está melhor, e parte dessa melhoria está seguramente relacionada com o processo de investigação que foi realizado e que continua a decorrer. Portanto, desse ponto de vista valeu a pena. Tudo o que tenha a ver com a verdade desportiva deve merecer o nosso envolvimento. A justiça, como dizem, deve ser cega, mas a nossa abusou da cegueira nestes casos. Houve pessoas que não foram castigadas da forma que deviam pelo envolvimento que tiveram, mas ai já não se pode fazer nada a não ser denunciar. Salvou-se a justiça desportiva», frisou Filipe Vieira.A guerra que, por vezes com meias palavras, manteve com Pinto da Costa, não merece, nesta altura, a Vieira, muitas palavras. E argumenta: « Só me interessa falar do Benfica; interessa-me pouco aquilo que as pessoas que não têm a ver com o Benfica digam ou façam.»
E a propósito dos que entendem que uma gestão semelhante à do FC Porto, que tem dado títulos, seria a adequada para o Benfica, Luís Filipe Vieira é enfático:
«Ao contrário de outros, acho que a grandeza do Benfica não se equipara a qualquer outro clube português e o Benfica tem um caminho e um rumo. Não tem de seguir ninguém! Aliás, temos assistido exactamente ao contrário, os outros clubes é que têm seguido as nossas soluções.»

De Manuel Vilarinho a Fernando Tavares

Inevitável saber como ficou a relação de Vieira com Vilarinho depois deste ter recuado em relação à Presidência da AG. «Como sabem», diz Vieira, «tenho um grande respeito e estima por Manuel Vilarinho. Sem ele não sei se, hoje, haveria Benfica. Devo também dizer que Manuel Vilarinho sempre foi coerente e, aliás, levou esse assunto (modalidades) a uma Assembleia Geral. Mas como presidente da Direcção, já o disse várias vezes, as modalidades fazem parte da história do clube e são para continuar. Sou das pessoas que mais acredita e mais defende as modalidades e os sócios podem ficar descansados em relação a isso. As modalidades vão continuar a ser competitivas».Mas será que o adeus de Vilarinho aos corpos sociais teve a ver com as declarações que produziu na TV? Vieira recusa essa tese, dizendo ter-se tratado de uma opção pessoal de Manuel Vilarinho. «Não há qualquer relação entre a sua saída das listas e as declarações a que se refere. Repito, o clube deve muito a Manuel Vilarinho.»
Já quanto à saída de Fernando Tavares do pelouro das modalidades, Vieira volta à tese de não pessoalizar: «Fernando Tavares fez parte desta Direcção e tinha uma determinada visão do que deviam ser as modalidades e os seus orçamentos. Divergimos nessa visão, porque sempre entendi que poderíamos não só não acabar com nenhuma das modalidades de pavilhão, como gastando menos, mas melhor, ter equipas mais competitivas! O tempo começa a dar-me razão.»


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