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25 outubro 2009

Crónica


Benfica: uma espécie de futebol total

Por Rui Silva in ionline.pt

Não há só arte nos golos das águias. Também há matemática: 14 de cabeça, 14 de pé direito e 14 com o esquerdo.

A primeira jornada da Liga trouxe um mau prenúncio: nove golos em oito jogos. O novo Benfica, o de Jorge Jesus, não escapou à média e só conseguiu um empate (1-1) com o Marítimo, contrariando as indicações que tinha dado durante a pré-época de equipa que vivia na área do adversário.

Aos poucos, o Benfica foi-se soltando e, apesar de também só ter marcado um golo em Guimarães, em cima dos 90', assumiu o papel que desempenha actualmente: de equipa goleadora, que não trava para gerir jogadores e minutos, assim que chega à vantagem. Os adeptos sempre quiseram mais. O Benfica agora também. E é por isso que, apenas com três meses de época, os encarnados já levam 42 golos em todas as competições. Desde as duas primeiras jornadas do campeonato é rara a partida em que o Benfica se vê grego para chegar ao golo, exceptuando a partida com o AEK Atenas... na Grécia (0-1).

O Benfica marca golos de todas as formas e feitios e com uma coincidência, que tem tanto de artística como de matemática: 14 golos foram apontados de cabeça, 14 com o pé direito e 14 com o pé esquerdo. Não há forma de encontrar um antídoto para a capacidade concretizadora deste Benfica que, segundo Humberto Coelho, foi ganha com "dinâmica". "Só a dinâmica de uma equipa pode justificar essa distribuição", considera o antigo craque do clube (de 1968 a 1985).

Esta dinâmica de que fala Humberto torna também difícil traçar aquele que pode ser o golo típico do Benfica. O melhor marcador é Cardozo, mas o paraguaio já marcou de cabeça, com o pé esquerdo, com o pé direito, de livre, de penálti, na sequência de um canto, com assistências da direita e da esquerda. Por falar em assistências, o argentino Pablo Aimar lidera com seis. Seria demasiado fácil dizer que há uma aliança sul-americana no ataque. Demasiado fácil e até errado, porque as assistências de Aimar nunca são para Cardozo.

"Só tenho pena que não sejam todos portugueses", lamenta José Augusto, outra glória do Benfica (de 1959 a 1970), que está rendido ao futebol encarnado e a Di María, o espelho desta equipa: "Está num momento muito bom. Em cada lance que participa, contribui com imaginação e criatividade e ajuda a contagiar o resto da equipa."

A distribuição dos golos também é reveladora, desde logo pela eficácia após o intervalo, tal como contra o Everton. Com dez golos entre os 45 e os 60', o Benfica tem garantindo a vantagem necessária para chegar aos três pontos. No extremo oposto está o período entre os 60 e os 75, em que, curiosamente, só o V. Setúbal sofreu golos (dois dos 8-1).

Mais: o Benfica construiu uma relação com a baliza de verdadeira proximidade. Não apenas pelos 42 golos, mas também pelos 39 marcados dentro da área. Porque é dentro da área adversária que este Benfica vive.

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